As encefalites virais equinas são doenças causadas por vírus da família Togaviridae, dos quais os pertencentes ao gênero Alphavirus provocam as Encefalites Equinas do Leste (EEE), Encefalites Equinas do Oeste (WEE) e Encefalites Equinas Venezuelanas (VEE) e os pertencentes ao gênero Flavivirus provocam as Encefalites de Sant Louis e Febre do Nilo Ocidental (FNO). No Brasil, existem relatos de VEE isolados de mosquitos e morcegos no Vale do Ribeira – SP e surtos epizoóticos (somente uma espécie) em equinos do Pará, Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo. Em 2013 foi publicado um caso de isolamento do vírus da Encefalite de Saint Louis em equino no estado de Minas Gerais.
Aves e roedores silvestres são os principais reservatórios dos vírus, os quais infectam os humanos e equinos de forma acidental. A principal via de transmissão ocorre pela picada de insetos hematófagos infectados tais como o Aedes spp e Culex spp.
Patogenia:
A infecção dos equinos e humanos se inicia pela picada do mosquito que contém vírus em sua saliva. Após a inoculação, ocorre replicação viral em fibroblastos próximos ao local da picada. Os vírus apresentam tropismo pelo sistema linfoide, através do qual se dissemina por todo o organismo podendo atingir o sistema nervoso central por via hematógena.
Sinais clínicos:
Geralmente o primeiro sinal a ser notado é a febre. A infecção pode causar alterações de estado comportamental, cegueira, pressionamento da cabeça contra obstáculos, bruxismo, excitabilidade ou estupor, cabeça e orelhas baixas, ptose palpebral e labial, ataxia, protrusão de língua, disfagia, posição de auto-auscultação, paralisia e decúbito. O curso da doença de animais severamente acometidos varia entre 2 a 14 dias, frequentemente resultando em óbito em equinos não vacinados.
Diagnóstico:
O diagnóstico presuntivo pode ser baseado nos sinais clínicos e nas alterações do líquido cerebroespinhal, que geralmente apresenta pleiocitose neutrofílica. Os neutrófilos se apresentam hipersegmentados e com granulações tóxicas.
O principal teste antemortem auxiliar no diagnóstico é a sorologia para detecção de imunoglobulina M (IgM). Existem ainda os testes de inibição da hemoaglutinação, fixação do complememnto e teste de neutralização, todos menos sensíveis que a sorologia por ELISA. O isolamento de Alphavirus pode ser realizado por inoculação intracerebral de ecamundongos recém-nascidos.
Com fragmentos de tecidos de necrópsia é possível detectar os vírus por meio de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) dos tipos tempo real e transcriptase reversa, imunofluorescência direta.
Diagnóstico diferencial:
- Raiva
- Mieloencefalite Protozoária Equina
- Encefalopatia hepática
- Leucoencefalomalácia
- Encefalites verminóticas
- Neuroborreliose
Tratamento:
Nenhum medicamento antiviral demonstrou eficácia contra os alfavírus, portanto o tratamento da doença é somente de suporte. Porém, na maioria dos casos ocorre o óbito entre 3 a 5 dias após o início dos sinais clínicos. Pode-se administrar flunixina meglumina (1,1 mg/kg a cada 12h) ou qualquer outro antiinflamatório não-esteroidal, manitol (0,25-2,0 g/kg, IV, cada 24h) para redução do edema cerebral e sedativos como a detomidina (0,02-0,04 mg/kg, IV ou IM) para tranquilização. Manter o equino isolado em local calmo, limpo e confortável e garantir sua hidratação e nutrição também são essenciais para o sucesso do tratamento.
Prevenção:
O controle deve ser realizado por meio da vacinação dos equinos. Éguas prenhes devem ser vacinadas 1 mês antes do parto, potros podem receber a primeira vacinação aos 5 meses, com reforço aos 6 e 8 meses. Em seguida, deve ser feito o reforço anual contínuo.
Em caso de ocorr6encia de caso suspeito na propriedade, o controle do vetor se faz fundamental para inibir a disseminação da doença.
Considerações em saúde pública:
Humanos podem se infectar por todos os vírus que provocam as encefalites equinas. Os sinais clínicos podem variar desde sintomas de gripe até sinais neurológicos e morte. Idosos, crianças e imunossuprimidos são mais susceptíveis às infecções. Os casos em humanos geralmente são reportados 15 dias após a ocorrência de caso em equinos. Médicos veterinários e pessoas envolvidas com casos suspeitos devem utilizar equipamentos de proteção individual ao terem contato com o animal e também sugere-se o uso de repelentes.
Referências:
1. SELLON, D.C. LONG, M.T.L. Equine Infectious Diseases, 2nd Ed. Elsevier, p.475-494, 2014.
2. KAHN, C.M. The Merk Veterinary Manual, 9th Ed. Merial Limited, 2005.
3. ROSA, R. COSTA, E.A. MARQUES, R.E. OLIVEIRA, T.S. FURTINI, R. BOMFIM, M.R.Q. TEIXEIRA, M.M. PAIXÃO, T.A. SANTOS, R.L. Isolation of Saint Louis Encephalitis Virus from a horse with neurological disease in Brazil. PLoS NTD 7(11): e2537, 2013.